domingo, 19 de setembro de 2010

Revolta de Búzios

No dia 12 de agosto de 1798 tinha inicio um dos movimentos abolicionista e de independência, menos conhecidos do Brasil – A revolta dos Alfaiates ou dos Búzios. Comparado a Inconfidência Mineira, a articulação na Bahia era mais arrojada, pois propunha a libertação das pessoas escravizadas – coisa que Tiradentes e companhia limitada não pensaram. A revolta foi inspirada na Revolução Francesa, 1792 – nos ideais: Fraternidade, Liberdade e Igualdade.
         As autoridades portuguesas até que tentaram evitar que as ideias francesas chegassem à colônia brasileira, mas a vinda em 1796 de um francês de nome Larcher acabou pondo por terra a estratégia. Cientes da presença do partidário da revolução na França, o colocaram sob vigilância, mas os soldados encarregados terminaram apaixonados pelos fatos que aconteciam na Europa.        Não era difícil isso acontecer, pois eles eram brasileiros e não concordavam com a situação que estava sendo submetido o Brasil.
       Outro influenciado pelas idéias do francês, foi o farmacêutico o João Ladislau Figueiredo e Mello, que cedia sua residência para reuniões, que participavam membros da elite baiana, mais ligados aos setores liberais. Entre eles o padre Francisco Agostinho Gomes e até um senhor de engenho – Inácio Siqueira Bulcão. Inclusive livros de pensadores iluministas eram lidos e distribuídos, apesar da forte fiscalização portuguesa contra esse material.
       Nesse período os senhores de engenhos estão beneficiados pelo aumento da produção da cana-de-açúcar, que substitui no mercado internacional o mesmo produto cultivado em São Domingos, palco da revolta dos escravos. Mas a recusa desses produtores em cultivar gêneros alimentícios aumentou a inflação sobre a comida, criando descontentamento na população pobre.
        Também chamada de Inconfidência Baiana, a Revolta teve efetivo inicio com a divulgação de panfletos feitos por Luis Gonzaga das Virgens, com as seguintes idéias: 1º – Independência da Capitania; 2º Governo Republicano; 3º Liberdade de comercio e abertura de todos os portos; 4º Cada soldado receberia soldo de duzentos réis por dia; 5º Libertação das pessoas escravizadas. O material foi afixado e distribuídos nas ruas de Salvador. Delatado, Luis, foi preso no dia 24 de agosto de 1798.
        No texto dos panfletos constava a seguinte frase: “Povo que viveis flagelados com o pleno poder do indigno coroado, esse mesmo rei que vós criastes; esse mesmo rei tirano é o que se firma no trono para vos veixar, para vos roubar e para vos maltratar.” E outro se lia: “Animai-vos Povo Bahiense que está por chegar o tempo feliz da nossa liberdade: o tempo em que todos seremos iguais”.
        Das Virgens era um soldado do 2º Regimento, ligado à ala mais radical e popular do movimento, formada por negros livres. Faziam parte desse grupo o soldado Lucas Dantas de Amorim e os alfaiates João de Deus do Nascimento e Manuel Faustino de Santos Lira. Estes ainda tentaram libertar Luis Gonzaga da cadeia, mas sem sucesso.
        João de Deus foi motivado a participar da Revolta, por tomar conhecimento das noticias sobre a Revolução Francesa e a luta pela Independência do Haiti, liderada por Toussaint Breda. João tinha 37 anos, era alfaiate renomado e pai de cinco filhos. Foi imediatamente preso após a distribuição dos panfletos por sua fama de apaixonado pelos ideais revolucionários. Enfim: era tido pelas Forças Repressoras da Coroa Portuguesa como subversivo.
        Também participaram dessa ala Cosme Damião, pardo escravo; Felipe e Luís, escravos; José do Sacramento, pardo alfaiate; José Félix, pardo escravo; Joaquim Machado Peçanha, pardo livre; Luís Leal, pardo escravo; Inácio Pires, Manuel José e João Pires, pardos escravos; José de Freitas Sacoto, pardo livre; José Roberto de Santana, pardo livre; Vicente, escravo; Fortunato da Veiga Sampaio, pardo forro; Domingos Pedro Ribeiro, pardo; o preto Gege Vicente, escravo; Gonçalves Gonçalo de Oliveira, pardo forro; José Francisco de Paulo, pardo livre e Félix Martins dos Santos, pardo.
        Não podemos deixar de destacar a participação feminina na elaboração da revolta, entre elas Ana Romana e Domingas Maria do Nascimento, que ajudaram na distribuição e divulgação dos ideais da revolta.
        A ala mais abastada da Revolta era formada por integrantes da Loja Maçônica, que se denominavam – Cavaleiros da Luz. É importante citar que nos países colonizados na América, as Lojas Maçônicas foram responsáveis pelo incentivo à independência das nações européias. Entre os integrantes desse grupo se destacavam quatro brancos, todos intelectuais, Cipriano Barata, Aguilar Pantoja; Oliveira Borges e Moniz Barreto. Este ultimo de primeiro nome Francisco, era professor e foi autor do Hino da Independência Baiana. No julgamento dos acusados de insurreição ela foi recitada por eles em nome da própria defesa.
        Mas todos os componentes dessa ala do movimento foram covardes, ao negarem a participação na preparação da revolta, sendo inclusive todos absolvidos. Eles arrumaram testemunhas pagas que juraram inocência ou deram álibis falsos para os afastarem da condenação.

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